sexta-feira, julho 11, 2008

Juro que vou à forra

Estou tão surpreso
de estar assim
que nem em mim
acredito mais,
aliás,
de tão aflito,
estou um horror!,
não estou medindo
esforço nem suor,
pior,
não estou ligando
pra montante
nem pra valor,
perdi o vezo de poupar
e dei de gastar sorrindo,
e paca e bastante
e a rodo e à beça,
e estou quase
ficando sem base,
e precisando de reforço
pra teso não ficar de todo,
me tornei um panaca,
e não sei
se vou sair ileso dessa,
mas,
não deixei
nem por um instante
de acalentar meu desforço,
ora essa, que fase!,
assim que te vi,
fiquei uma pilha,
aí,
por você,
cometi um crime:
virei a casaca na hora;
agora,
torço pelo time da família,
na lapela
pus a Cruz de Malta,
e como é bela!,
como salta!,
como brilha!,
e fico aceso
no dia do jogo
e a pressão fica alta,
é... paixão é fogo!,
o segundo encargo
foi perder peso,
puxa!,
uma ducha fria
que nem estava obeso,
mas,
fui fundo no regime,
passei
a beber café amargo
e a comer só
o que constava da pauta,
e deixei de ser franco
e acabei mentindo:
“não estou sentindo falta
nem de cerveja e goró!”;
em dia de branco,
levo ao bingo
sua titia materna e solteirona
que esbraveja e me humilha
que de materna
essa dona não tem nada,
e dessa safada
inda banco o vício,
e no afã
de bajular a irmã da sua tia,
vivo acendendo vela
e fazendo sacrifício e vigília,
e, no domingo,
madrugo,
mas,
me privo da pelada
e à igreja vou com ela,
em feriado prolongado,
faça chuva ou faça sol,
alugo carro,
pego a estrada
e vou a Tucunduva,
e vou como uma bala,
e sem escala,
e sua madrinha trago,
e pago tudo sozinho,
e vou e volto mudo,
atento à fala da dindinha,
na quarta,
marco mais um tento,
com seu sobrinho
vou ao futebol
que me amarro nele,
ele é um sarro...
é um esbarro aqui,
ali um cacete,
um chute acolá,
e sorvete, quitute, guaraná,
e o danado
se lambuza e farta
e ainda me acusa
de babaca e mão-de-vaca,
e por aí não finda não,
com seu pai escuto fado
noite após noite
e sem pausa nem fim,
e ai de mim
se deixar furo,
se precisar de ar puro
por causa do charuto,
seu irmão
é useiro e vezeiro
em pegar meu dinheiro
e nunca me paga,
e você nem liga,
e ainda me obriga
a ficar de bom humor,
sua cunhada é uma praga
na partida de buraco
e você amarela
quando olha pra ela,
e se molha e se borra,
e a batida não vê,
e dá o curingão
de mão beijada,
e ela bate, late
e torra o meu saco,
é duro tanto dissabor,
mulher,
mas,
quando eu puser
a mão no seu amor,
juro que vou à forra!,
e lhe dou uma dica,
vai ser berro,
ferro a carvão,
tanque, forno e fogão!,
de adorno,
escovão e espanador,
e da fubica
você vai ser
motor de arranque!