quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Os treze titulares da seleção

Aí,
mano,
será que sou cartesiano?,
penso, logo existo,
ou,
talvez,
existo, logo penso?!,
pensando bem,
tanto faz como tanto fez,
afinal de contas,
não sou francês,
não sei a quantas ando
nem como anda
minha conta lá no banco,
aliás,
e sendo muito franco,
quem é você
pra me julgar?!,
um pobre mortal
que grita “heureca!”
ao se excitar
com fama e cobre,
mas,
não recita Pessoa e Bandeira
e não loa Dante, Lorca e Kant,
e chora
no final do drama,
e numa cabeceira
de uma cama de motel
se enforca
com a calcinha da boneca
que dá o fora
protegida por um véu
pra não ser reconhecida,
aí, mano,
ser ou não ser (cartesiano),
eis a minha questão!?,
então,
pra não perder a pose,
como outro torresmo
e tomo outra dose
de mel com purinha,
por fim,
no pico da emoção,
me ufano
do meu tirocínio
e dou um close nos treze titulares,
e não me goze,
meu cupincha,
são treze titulares mesmo
que seleção sem eles é besteira:
Ary,
Noel, Aldir, Lupicínio e Cartola,
Caetano, João Nogueira e Pichinguinha,
Garrincha, Chico, Vinícius, Pelé e Silas de Oliveira,
e regendo a seleção Tom Jobim,
e fico vendo as filas
na frente do Opinião
e gente paca
assistindo ao show de bola
e aplaudindo gol de placa!

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Um segundo sem você

Você é a graça da vida!,
do meu sonho, enfeite,
do meu peito,
deleite e sossego,
feito aconchego
de praça florida
em avenida
coberta de pressa,
da ferida aberta,
é compressa,
gaze e unguento,
e ponho
e a dor passa
e a brecha se fecha,
e você
me anima a alma
quando da lida
chego quase morto,
em meio
a vento e temporal,
você é porto e esteio,
e me abraça,
acalma e me dá alento,
ainda por cima,
linda e sensual,
lança no ar
o cheiro do amor
que me faz virar
criança embevecida
no conforto do quarto,
mas,
um segundo sem você
e me afundo
em desespero de aborto
sangrando a esperança do parto!

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

"Quem sai aos seus não degenera"!

Minha nora
é um azougue
e adora mordomia,
e todo dia à fava
manda o domicílio,
e meu filho junto,
e não faz açougue,
quitanda, padaria,
e não é só,
não cozinha,
não lava, não passa
e da mobília não tira o pó,
e ela apela e cala
quem a contraria
e fala no assunto,
todavia,
é nessa ocasião
que meu orgulho
revela a raça da família,
não se aporrinha
nem faz barulho,
se vira como dá
e até do bebê é a babá,
e a nora todo dia
na rua bate perna
e se extrema na gandaia,
é praia, boate, cinema,
academia de ginástica,
na condição
de atração turística,
é a bamba
que se sacode mais
no samba e no pagode,
e faz depilação artística,
alterna
plástica e lipoaspiração
e com silicone
amplia a geografia,
e se interna em spa
pra recuperar a energia,
e não atende nem telefone,
e como rende a internação!,
e no lar,
pra se exercitar,
anda nua na varanda
e não para de dizer:
“o que é bonito é pra se ver”,
mas,
meu filho é fera
e também tem seu dito:
“quem sai aos seus não degenera”!

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Você vai pro "Guinesse"!

Você reclama tanto do fado!,
mas,
enquanto
deplora a situação ruim
e alardeia estado crítico
entre prece e imprecação,
no colchão
maloca a dinheirama,
amiga,
você chora
de barriga cheia
e jamais troca o disco,
parece até dona de botequim!,
qual político em campanha
com sua manha emociona o povão,
comove credor durão,
cobrador arisco
e demove até ladrão
do intento de te assaltar,
e, não raro,
encena cena
em que padece de estresse
e consegue uma façanha,
consegue arrancar
pena e benesse
de avaro avarento!,
é...
a qualquer momento,
mulher,
você vai pro “Guinesse”!

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

É a sua estrada

Vá atrás do seu norte,
rapaz,
é a sua estrada,
e, se puder,
os pés do chão
não tire por nada,
não tire nem por mulher!,
mas,
por precaução,
moço,
reze forte
e leve no bolso
figa, breve e patuá,
de resto,
seja modesto,
preze seu semelhante,
fique distante de briga,
intriga, angu-de-caroço
e principalmente de vício,
e mais,
não é necessário
ficar indiferente ao tutu,
mas,
não se encante
a ponto de ficar tonto
ou de se tornar mercenário,
por revés ou embate
abater não se deixe
e, se cair,
mesmo sendo difícil,
se levante
e trate de ir adiante,
mas,
é importante
aprender a lição
pra seguir
vendendo seu peixe,
porém,
história não invente
que tem gente
que tem boa memória
e quem tem
nem sempre é gente boa,
e não esqueça
que pode aquecer
a cabeça do rival
tentar dar olé
ou ganhar no grito,
e nunca,
nunca cante vitória
antes do apito final,
depois,
por favor,
não pinte
com o perdedor,
ofereça a sua mão,
pois o instante seguinte
uma interrogação sempre é!

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Papel de tolo

Minha deusa
me fez
perder a medida
e no altar
fui parar feliz da vida,
e fiz papel de tolo
já na lua de mel
que a Creusa
ou me deu bolo
ou não me deu bola,
e na piscina entrou nua
e o hotel todo viu
e da sua cola
não saiu mais,
mas,
fez beicinho,
jeitinho
de menina pura,
e fez jura e culpou
o sol e o pilequinho
e implorou meu perdão,
e, quem diria,
caí no anzol e dei,
aí,
arrastei de vez a mala
e no machão
ela entrou de sola,
fez o menestrel
largar esquina e viola
pra tocar pia
e fogão na maloca,
proibiu
cueca na sala
e futebol na tevê,
proibiu
pelada dominical
e até soneca vespertina,
e em troca
nunca me deu nada
que sofria
de cefaleia caseira,
mas,
por filantropia,
vivia faceira
pra lá e pra cá
de domingo a domingo,
era feira, bingo, coquetel,
almoço, café, jantar,
lanche, brunch, chá,
pré-estreia, festival,
e a lista era um colosso,
e nunca ia a pé
que sempre tinha motorista,
aliás,
quando olhei bem o rol,
passei até
a achar natural sair de chapéu
pra não descobrir a rasa e a testa,
agora,
não me resta mais nada
que a Creusa
só me deu despesa
e com uma bela cilada
acabou de me arrasar,
me jogou
pra fora de casa
como um ciclone,
arranjou patrono
e me denunciou
por abandono do lar,
e solicitou pensão
pra ela e pro Bibi,
nosso guri e clone do Ricardão!