quarta-feira, novembro 29, 2006

Quero asas

Quero-quero,
tero-tero,
tem-tem,
quero ser sabiá,
sim-senhor!,
ser pixarro, joão-de-barro,
quero imitar minha voz
como tão bem faz o mainá
e parar no ar
em meio a um voejo
pra dar beijo em beija-flor,
quero ser
pombo mensageiro,
pombo-correio,
ser sobranceiro albatroz
sobre a imensidão do mar,
ser bem-te-vi,
tico-tico,
periquito-verdadeiro,
santo, rico,
qualquer periquito!,
quero tanto ser rolinha,
uiriri, coleiro, andorinha
mesmo que sozinha
não faça verão,
quero mesmo assim,
quero ter asas de xexéu,
asas de chapim,
quero voar sem susto
sobre espantalhos
e pousar justo no chapéu
que não há melhor lugar,
quero fazer ninho
nos galhos mais altos
e ser vizinho do Céu,
quero dar os saltos
que o pinéu dá
quando canta
e ninguém sabe explicar,
mas,
quero cantar
como o irapuru
que tanto nos encanta,
quero ser quenquém,
alegrinho, jaburu,
capitão-da-porcaria e jururu,
não sei não...
quero ser forte,
ter o porte dos açores,
mas,
sem pendores de falcão
que rapinar
não quero não,
quero ser jandaia, arataia,
voar é magia
e quero voar,
quero-quero,
tero-tero,
tem-tem,
canarinho,
e tanto quero
que um dia
hei de ser passarinho!

sábado, novembro 25, 2006

Salve-se!, salve-se!

Salve!, salve!,
ou melhor,
quer dizer,
ou pior,
salve-se!, salve-se!
quem puder,
homem e mulher,
que os caras têm taras
e comem o que você tiver,
e não tem mais hora nem lugar,
pode ser aqui e agora,
na calada da noite
ou na barulhada do dia,
e não se moite,
não use nem estilingue
nem contrate um King Kong
pra lhe dar garantia
ou pra agarrar o meliante em falgrante,
que alguma ONG
vai te processar
por violação de direitos humanos,
direitos humanos do ladrão!,
afinal,
de suas perdas e danos
vive a economia marginal,
e quem que não colabora
inibe a expansão do PIB
e a distribuição de riqueza,
sem a qual
nunca reduziremos a pó
a divisão de classes,
nunca reduziremos as classes
a uma só classe social,
nunca teremos
nossa pobreza universal:
“olá,
muito prazer,
eu sou o seu ladrão
e vim roubar você,
passe o dinheiro pra cá
e passe todo o dinheiro,
e não seja ridículo,
não se coce
nem esboce reação,
vivo da minha reputação
e não quero motivo
pra lhe dar um tiro,
prefiro dar
sem nenhuma razão,
dá mais emoção
e pro meu currículo,
currículo de ladrão,
esse tiro é muito bom!”

quinta-feira, novembro 23, 2006

Bati de frente com a batida de limão

A sexta-feira tinha tudo
pra ser bacana
e eu ia abafar,
contudo,
comecei a me fiar
no caldinho de feijão
que vinha quente,
e a quituteira era baiana,
e cantei, batuquei, dancei,
e nem sei
em que trecho do caminho
meu queixo caiu,
e caiu literalmente,
bati de frente
com a batida de limão
que a cana era de primeira,
e a batida
não vinha na contramão,
vinha na mão,
na minha,
foi de amargar!,
de repente,
baranga cascuda virou franga
e só na segunda voltei ao lar,
e de bermuda,
e de paletó fui trabalhar,
conclusão:
Raimunda,
minha senhora,
quase me matou,
só não matou
porque dei o fora
e só voltei agora,
dois anos depois,
mas,
no fato
ela ainda fala
por entre os dentes,
panos quentes?!,
nem pensar!,
me trata no berro
e os deveres cotidianos
vão do fogão ao tanque
e do tanque ao fogão,
com escala
no ferro de passar,
e sem rama
sem cerveja
e com dieta completa,
ou seja,
durmo na sala
e não posso nem sonhar
em dar uma chegadinha
naquela cama quentinha
lá do nosso quarto,
e nem digo
que estou farto
porque é o que ela quer,
sou vivo,
meu amigo,
por mais que tente,
ela não me logra,
não vou dar motivo
pra sogra
vir morar com a gente!

terça-feira, novembro 21, 2006

Definitivamente magra

Tenho que ser franco,
não são poucas
nessa enorme fila
e nem têm a mesma idade,
e fazem coisas loucas
que vaidade não tem limite,
é muita tinta pra tintura
que não se admite
cabelo branco!,
e o pêlo,
conforme o lugar,
ela depila,
se for dura,
a fartura de cintura
trata com cinta,
e justa, e inelástica,
é... inelástica,
como custa
embrulhar a gordura!,
e trata o apetite com dieta
e dieta repleta de nada,
nada de batata,
nada de canelone,
fritura?!,
nem morta!,
torta?!,
nem pensar!,
que pensar engorda,
se é abastada,
vai de plástica e silicone,
madruga,
pinta e borda na ginástica,
e malha sem parar,
como não malha
nem atleta recordista,
e tem um esteticista
pra cada ruga,
um massagista
pra cada celulite,
um especialista
pra cada tipo de ‘lipo’,
e um pra ‘lipo’ da ‘lipo’
quando a ‘lipo’ básica
não surte efeito
e a paciente
não fica sem a fase
da corrente monofásica,
pois,
quando fica,
não há base que dê jeito
e fica magra,
definitivamente magra!

sábado, novembro 18, 2006

Vou tomar uma Atitude!

Vou tomar uma Atitude
como aquele prefeito
tomava Providência,
mas,
é preciso ter
jeito e ciência,
é preciso saber
tomar Atitude
pra não tomar
tão amiúde
a ponto de ser
amiúde demais
e ficar tonto,
afinal,
saber tomar Atitude
é uma virtude
que não faz mal
a quem sabe bem
quando uma Atitude cabe,
e mais,
jamais esqueça de tomar
uma Providência importante,
mande comprar mais
e com bastante antecedência,
bem antes que a Atitude acabe!

Sou de Deodoro

Sou povo
e sou de Deodoro,
e desde novo moro lá,
na marmita vai a refeição
e vou aflito trabalhar,
e de condução,
e passando por assalto,
e ando um estirão
depois que salto,
e quando vou,
e quando volto,
e não tenho saída
pois o salário dita
esse padrão de vida,
e o bendito não dá
nem pro necessário,
mês sim, mês não,
pago aluguel,
mês não, mês sim,
é a vez da prestação,
mas,
não ando
de chapéu na mão,
sou de vaquinha
pra churrasco na calçada,
sou de pelada, batucada,
adoro branquinha
e cerveja bem gelada,
e, por incrível que pareça,
a cabeça fica inchada
com fiasco do Mengão,
mas,
não faço fita
nem imploro
atenção a ninguém,
se alguém me ignora,
eu ignoro esse alguém,
e nem quero saber
onde mora,
mas,
veja você,
em compensação,
se esse alguém chora,
na hora,
também choro,
e nem sei a razão?!,
pois é...
se você não sabia,
moço,
chegou o dia de saber,
quem é de Deodoro
também é
de carne e osso,
também tem coração!

sexta-feira, novembro 17, 2006

Amar é teu vício!

Amar é teu vício,
teu vício é amar
e adoras ter amantes,
ter diversos amores,
senhores e senhoras,
e amas esses amores
nos mesmos instantes,
nas mesmas camas e horas,
adoras
esse cio que não estanca
e espanca as almas
que caem em teu vazio,
adoras prazeres casuais
e seus reles quereres
que correm pelas peles
como gosma,
gosma que faz chagas,
mágoas e traumas
que externas
e esmagas entre as pernas
quando gozas,
é a paga que pagas
porque não sabes dizer não
e não dosas o despudor,
é a paga que pagas
porque não cabes
só num amor!

Deixe em paz a Juliana!

De que adianta
essa vida
em esquina e botequim
com esse ar borocoxô
de pierrô-vovô
sem colombina?!,
de que adianta
essa inana insana
desse coração
com batida vulgar
e refrão chinfrim?!:
‘quem me dera...
quem me dera
fosse eu
meio Chico,
meio Caetano,
pra Juliana Paes
olhar pra mim’,
não adianta pagar mico,
mano,
você é roscofe demais,
não tem
um tico de inspiração,
ainda por cima,
se embanana
pra fazer uma estrofe
e a rima é um horror,
é ruim demais,
por favor,
rapaz,
deixe em paz a Juliana!

quinta-feira, novembro 16, 2006

Comecei bem moço

Comecei bem moço,
esperdicei esbarrão
antes da estréia
que não foi épica,
mas réplica
de estréia típica,
típica no alvoroço,
na correria,
na reação da platéia
que não aplaudiu
nem pediu bis,
preferiu a gritaria:
“pega!, pega!, pega!”,
aí,
carteira na mão,
o aprendiz
de mancebo e ladrão
pôs sebo nas canelas
e se safou
dando uma carreira
pelas vias da cidade,
por fim,
parou e olhou o butim:
duas fotografias
meias amarelas
e feias de dar dó,
assim como ele,
identidade pela metade,
um sobrenome só,
assim como ele,
e prata pra mata-fome
que a fome não ia matar,
e olhe lá!

segunda-feira, novembro 13, 2006

Só não me peça pra deixar a boemia!

Já lhe disse,
Neidirene,
tenho coração
pra entrega imediata
e vou botá-lo
em liquidação
em tudo que é vitrine,
de butique chique
a magazine brega,
contudo,
só pra você,
minha perene
Miss Alparcata,
se você quiser,
mulher,
por mais
que vente e neve,
escalo o Himalaia
no dente e na unha,
e só com traje leve,
calção de tricoline
e blusa de cambraia,
e sem mumunha,
se você mandar,
Neidirene,
mando tatuar na testa
“made in USA”
e vou fazer seresta
pra lá de Bagdá,
faço o que for preciso
pra te conquistar,
mulher,
realizo a fantasia
que você quiser!,
só não me peça
pra deixar a boemia!,
que só essa
não dá pra realizar!

quarta-feira, novembro 08, 2006

Amanhã tem mais!

É o barulho da marmita
e é o grito
na voz mole de um de nós,
é o eco de um Zé ao cabo da faina,
um treco
que tafulha o rabo de pinga
gole após gole
e amaina o pandulho,
e pita um pito barato
e matuta,
e do mata-rato
não sai tanta fagulha,
e destrata e xinga o trem,
mas,
não adianta,
o trem não escuta e não vem
e o Zé se vinga indo a pé,
e vai indo
birosca a birosca,
bordel a bordel,
sem nenhum vintém,
não se enrosca
com ninguém
e sonha com a bronha
que se foi Severina
na nona barrigada
sem sequer se despedir
e a cunhada,
irmã da mulher,
que quebrava um galho
virou fanchona e cafetina
e galho com macho não quer,
só quer cacho com menina,
vai dormir,
Zé,
amanhã tem mais!,
vai dormir,
Zé,
amanhã tem mais!

terça-feira, novembro 07, 2006

Não dá pra fazer samba assim

Como é
que você quer
fazer samba de verdade
sem saudade e lamento?!,
como é
que você quer
fazer samba que ri
do começo ao fim?!,
talvez o argumento
que lhe ofereço
faça você desistir,
não dá pra fazer
samba assim,
vai por mim,
se der,
esse samba
vai se dar mal,
não vai dar seu recado
nem vai fazer cantar o peito,
vai deixar
o cavaquinho sem jeito
e chateado o tamborim,
sem falar no pandeiro
que vai ser o primeiro
a ficar pelo caminho,
é temperamental demais,
se der pra fazer,
o que não acredito,
será um samba autista
capaz de confundir
a nata do terreiro,
de deixar aflito o sambista
e a mulata fora de si,
agora,
se você quer fazer
samba de verdade,
ponha a contento
lamento e saudade!

Não me torture assim!

Por que você é assim?!,
mulher,
qualquer erro meu
é erro à-toa pra você
e você me perdoa
sem eu sequer
pedir perdão,
e você esquece,
e ainda faz por mim
prece e oração,
você me dá a mão
e me guinda quando caio,
e me enaltece
pra quem quiser ouvir,
e eu minto, engano,
saio da linha,
até me ufano de te trair
com uma zinha qualquer,
mas,
você não reclama,
fica feliz quando chego,
de meu nego me chama,
me acarinha
e diz que me ama,
que me adora,
e sinto que não é
da boca pra fora,
quando quero você,
você
é louca amante
e amante completa,
se entrega sem resistir
e não me nega
nenhum prazer,
e se aquieta na cama
quando quero dormir!,
por favor,
mulher,
não seja tão cruel comigo,
dê fim a todo esse mel
e atire sua ira sobre mim,
me fira mais
do que eu já te feri,
e nunca mais me dê abrigo,
faça o que quiser,
mulher,
mas,
por favor,
não me torture mais,
não me torture assim!

segunda-feira, novembro 06, 2006

Falsa como ela só

Falsa como ela só,
na verdade,
a falsidade
com jeito de mulher,
e ela só manobra à falsa fé,
se meneia e roça feito cobra,
e acossa
qualquer peito vago,
acena doce aceno
como se fosse um afago,
faz cena
que só faz quem ama,
quem traz a chama acesa,
mas,
é areia no olhar
enquanto destila
seu canto de sereia
que destila até enfeitiçar,
depois
que se apossa da presa,
instila seu veneno
sem nenhum dó,
sem o menor pudor,
instila seu veneno
até que a presa
morra de tanto amar,
de tanto se humilhar
pra ter o seu amor!

quarta-feira, novembro 01, 2006

É a hora da mulher!

São flores
ganhando cores de amor,
sabor de primavera
chegando ao peito,
o bom jardineiro,
com jeito e carinho,
o caminho desvenda
pétala a pétala,
cheiro a cheiro,
pêlo a pêlo,
e desvenda sem pressa,
que não se interessa
só pelo colher,
espera madurecer a flor
e não se desespera de esperar,
fica atento,
sempre por perto,
sabe aguardar
o momento certo,
sabe bem da magia,
sabe que um dia
a força do amor na flor,
na moça aflora,
é a hora da mulher!

Cobras e lagartos do Oram (Novela das sete)

A gente vê,
você está a pique
de soltar a franga,
falta muito pouco,
tem gente despeitada
que manga um pouquinho,
gente
que não sabe ser fraterna
e essa gente
não significa nada,
pode crer,
a gente vê,
você adora
bater perna em magazine
e fica louco
com a vitrine de calcinha da butique,
fica perdidinho
quando vê
o terninho chique da vizinha,
embora ela tenha apenas
um terço da sua classe,
que a sua é de berço,
lembro do feitio
de suas belas chupetas
pretas, brancas e morenas,
que você
chupava de fio a pavio
e assustava até
aquelas ninfetas mais francas,
a gente vê,
você tem paixão por ruge,
e não é à toa
que ruge qual leoa louca
quando luta com o leão,
daqui a gente escuta
e sente que você
tá barbarizando
com o batom da sua boca,
a gente vê,
você namora
com o biquini da Dora,
aquele de crochê,
e com aquela
canga amarela da Aline
que tem strass, miçanga e paetê,
é bom você saber
que já anda piscando
como se usasse
cílio postiço,
já está andando
como se calçasse
salto bem alto
de bico bem fino,
olhando tudo isso,
fico pensando
e não atino com o porquê
de todo esse esforço
pra manter no exílio seu idílio,
ser menina-moça,
pra que fazer tanta força
se ser moço
não combina com você?!