quarta-feira, novembro 01, 2006

Cobras e lagartos do Oram (Novela das sete)

A gente vê,
você está a pique
de soltar a franga,
falta muito pouco,
tem gente despeitada
que manga um pouquinho,
gente
que não sabe ser fraterna
e essa gente
não significa nada,
pode crer,
a gente vê,
você adora
bater perna em magazine
e fica louco
com a vitrine de calcinha da butique,
fica perdidinho
quando vê
o terninho chique da vizinha,
embora ela tenha apenas
um terço da sua classe,
que a sua é de berço,
lembro do feitio
de suas belas chupetas
pretas, brancas e morenas,
que você
chupava de fio a pavio
e assustava até
aquelas ninfetas mais francas,
a gente vê,
você tem paixão por ruge,
e não é à toa
que ruge qual leoa louca
quando luta com o leão,
daqui a gente escuta
e sente que você
tá barbarizando
com o batom da sua boca,
a gente vê,
você namora
com o biquini da Dora,
aquele de crochê,
e com aquela
canga amarela da Aline
que tem strass, miçanga e paetê,
é bom você saber
que já anda piscando
como se usasse
cílio postiço,
já está andando
como se calçasse
salto bem alto
de bico bem fino,
olhando tudo isso,
fico pensando
e não atino com o porquê
de todo esse esforço
pra manter no exílio seu idílio,
ser menina-moça,
pra que fazer tanta força
se ser moço
não combina com você?!