quinta-feira, janeiro 29, 2009

Depois da hipocrisia, o cinismo

Palpite que nada,
é uma barbada!,
mas,
não acredite
se não lhe convier,
quando tiver vez,
perder a viagem
não vai não,
em vez de fazer
o que sempre fez,
criticar quem manda,
mandos e desmandos,
sacanagem e marmelada,
vai dar uma guinada
e vai trocar
de banda e de norte,
e uma banana
vai dar pra retidão,
e vai ter na cachorrada
prole, consorte e parentada,
e não vai ser mole não,
na ladroagem
vai mandar bala
com afano, armação,
cabala e cambalacho,
e vai ganhar grana de montão,
mas,
de início,
por debaixo do pano
e, em homenagem à virtude,
vai usar a hipocrisia
pra disfarçar seu vigarismo,
mas esse vício é fogo
e o jogo vai jogar
cada vez mais amiúde
e mais abertamente,
e, mais dia, menos dia,
vai dispensá-la
e descaradamente
do cinismo vai lançar mão!

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Olha o Nem Muda Nem Sai de Cima aí!

E se alguém
resolve sacar revolve
por achar que essa rima
é uma bobagem
e não fica bem num samba,
o que é que a gente faz
pra melhorar o clima?,
cruz!, caramba!,
mas,
se alguém sacar,
ao Moacyr Luz
a gente vai pedir ajuda,
aí,
ele vai pegar o pinho
e vai levar
o do Nem Muda Nem Sai de Cima,
e o bloco vai tomar a pista
com o Marquinho
na comissão de frente
pedindo passagem
e abrindo caminho
com o boticão,
e de bloco o presidente manja!,
e como todo mundo,
no fundo,
tem medo de dentista
e esse medo
é coisa muito séria,
e com o Moacyr
dando uma canja,
a briga vai virar
batalha de confete
e vou pintar o sete
e tirar a barriga da miséria
sem tirar meu chapéu de palha!
alô Formiga!, alô Borel!,
olha o Nem Muda Nem Sai de Cima ai!

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Se afoga em pingo d'água

É bom que se diga:
nova malandragem uma ova!,
a que anda em voga
não dá nó
como dava a antiga,
se afoga em pingo d’água,
e só anda em voga
porque
não há mais triagem
e não é mais necessário
ser astuto pra se graduar
e até otário manifesto se gradua,
e não vai adiantar nada
ocupar a rua e fazer protesto
nem dizer
que esse comentário
é choramingo
fruto da mágoa
da malandragem aposentada,
a malandragem
que anda em voga
afronta a prudência
e à toa esmurra ponta de faca,
a inteligência ataca e maltrata
e cede à tentação
e em canoa furada embarca,
e se encharca de pinga
e se atola na droga
e emburra,
e pede esmola,
ou, então,
assalta e mata,
e a maior e melhor prova,
essa nova malandragem
não ginga,
rebola,
e só anda em voga
porque boa escola anda em falta!

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Receio pelo amanhã do calendário de oficina

O vestuário da mulherada
abriu mão de tanto pano
e ficou tão transparente
que a imaginação decidiu
desativar aquela seção
do imaginário varonil
que na geografia dela
vivia mergulhada,
e desativou
do infantil ao veterano,
e, apesar de sexagenário,
peço mais progresso!,
e estou de prontidão
pra não deixar
que invente moda
ou tente frear essa roda
algum reacionário ou dissidente,
mas,
confesso
que me azucrina um receio,
receio pelo amanhã
do calendário de oficina
porque,
quando o vê,
já não exclama a criancinha:
“mamãe!, olha você só de sutiã!”,
“mamãe!, olha você só de calcinha!”,
a vovó já não reclama
nem belisca seu velhinho
que um olhar já não arrisca,
aliás,
já não fascina nem rapaz novinho
e não origina aquele agir solitário
que fez muito moleque
soltar o breque,
virar macho e se sentir herói,
acho até que posso dizer
que tal agir,
hoje em dia,
em razão da desativação
da tal seção do nosso imaginário,
já não sói acontecer
tal qual ontem acontecia!

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Um empurrãozinho

Não é necessário ser adivinho
pra saber que você
vai sair do armário
e vai virar drag queen
assim
que levar um empurrãozinho,
e pode achar ruim
e em mim dar esbregue,
pois,
por mais que negue,
com um empurrãozinho,
e não vai precisar de dois!,
você vai se depilar,
tirar bigode
e passar batom carmim,
vai usar salto alto
e qualquer tortura
vai enfrentar
pra melhorar a figura
e entrar
no vestido justo e miúdo
e revestido de pompom
que sua ex-mulher
fez questão de não levar!,
e tudo indica que você
vai botar no sutiã
maçã ou limão
pra fazer o busto
e vai proclamar
que não prejudica
o que abunda
e vai caprichar no air bag
e vai se gabar
de ser clone da Raimunda,
mas,
o perfil postiço
talvez o enraive
e você
se entregue todo
ao feitiço do silicone,
e silicone bote a rodo,
e mais uma dica,
seu telefone celular
vai ser lilás demais
e vai tocar I will survive!,
psiu!,
estou falando com você!,
atenção nesse empurrão,
já imaginou
poder encarnar
uma gata romântica
e ser conhecida
como a pupila da Priscila
que ficou feliz da vida
ao se tornar Imperatriz,
Imperatriz da Mata Atlântica?!,
o que é que você me diz?!,
mas,
vá em frente depressa
que tem mais gente nessa fila!

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Vivo no prego

Vivo no prego
e não nego que vivo
que a bacana
não sou metido
e ao fasto
não sou chegado,
e a grana é curta
e o gasto é comprido,
e minha gente
não furta nem afana,
agora mesmo,
rependurei
pendura do passado
e juntei
ao vasto passivo
despesa do presente
que meu ativo
é pra inglês ver,
não dá pra viver
nem metade do mês,
e, com certeza,
um pendura recente
com algum do futuro
vai ter de ser rependurado,
na verdade,
nem mesmo
na hora de cochilar
passo sem pendura
e faço como se faz
em xadrez superlotado,
penduro uma alça
e me dependuro
que no chão
não há mais lugar,
de maneira a secar
pra usar de manhãzinha,
penduro
a calça cansada
e o blusão destinto
atrás da geladeira
branca e vazia
que angustia e atravanca
o recinto acanhado
que é sala, quarto e cozinha,
mas,
quando se instala o verão,
de porta escancarada,
dá pra utilizar
tal qual ar-condicionado,
e me penduro no frio
que não é farto nem corta,
mas,
me dá arrepio
que careço de costume,
pra ver televisão,
o preço
é me esticar
e ficar pendurado
no som da casa ao lado
que vaza o meu tapume
e adentra minha moradia,
e a fantasia entra em ação,
e o volume
até que é bem bom,
que a audição da vizinha
já não vai lá muito bem,
e, pelo passadio,
eu apelo,
falo macio e repriso
aquele sorriso
amarelo e oco
e não me abalo
nem dou um pio
quando o comerciante,
à guisa de troco,
me pisa e afronta
diante da freguesia,
e o meu brio
com a conta penduro,
e penduro
pelo pão na padaria,
na mercearia,
por arroz, feijão e farinha,
e, na tendinha,
por nobre razão,
pela purinha e pela loura,
que estoura o pobre
sem esse bendito pendura,
pra ir e vir do batente,
aturo aflito
a loucura do dia-a-dia
e me penduro na condução,
mas,
antes de sair,
pra escapar
de crime e acidente,
me penduro
na mão da santa
e é tanta a minha fobia
que penduro em mim
cordão chinfrim
com figa e patuá,
e tive de tirar do quintal
e de pendurar na casinha
a bandeira do meu time
que o pessoal,
pra pisar no meu calo,
deu de chamá-lo de poeira
porque não vive sem lanterninha,
enfim,
essa briga
é uma pedreira
que o prego não é mole,
mas,
apesar da sua censura,
me nego
a pendurar a chuteira,
minha prole que o diga,
e é desnecessário
vir em meu auxílio
falando de camisinha
que tal utensílio
nenhum boticário pendura!