sexta-feira, outubro 31, 2008

No ponto da Praça da Promessa

De saída,
madrugada ainda,
na pinda e tonto de sono,
esperar condução
no ponto da Praça da Promessa
perdida na Travessa do Abandono,
é de lascar!,
e tem gente à beça esperando,
e a primeira passa em disparada,
e passa a segunda voando pela pista,
e bem rente à calçada passa a terceira,
mas,
não pára não
que no acelerador
o motorista afunda o pé,
e do nosso dissabor
no coletivo alguém ri
e bole com a gente,
e, pensando bem,
quem bole
também é um zé
e não tem motivo pra bulir,
aí,
acena e esbraveja
alguém que ainda
não é bunda-mole,
que ainda está vivo
e tem sangue quente,
e pego a pensar
que é uma pena
que já não me zangue
nem veja razão
pra fazer protesto,
gesto obsceno
e dizer palavrão,
mas,
como todo bom prego,
me sinto
limitado e pequeno
e minto mais uma vez,
alego sensatez
e ronco
de ter ficado
farto de ser bronco
e de impulsivo não ser mais,
e o quarto coletivo dá freada,
mas,
não pára não
que é freada de arrumação,
e somente o quinto pára
e a gente se enfrenta
e inunda o carro
e se apinha
que nem sardinha em lata
e vai à cata de não sei o quê!,
e você ainda vem e tenta
tirar sarro na bunda da gente!,
de saída,
madrugada ainda,
na pinda e tonto de sono,
esperar condução
no ponto da Praça da Promessa
perdida na Travessa do Abandono,
é de lascar!