sábado, setembro 20, 2008

A velhice é uma...

Já disse alguém:
“a velhice não é mole”,
e resmungo
quando ouço,
mas,
comungo
com tal afirmação,
e nem foi bem isso
o que alguém disse
e disso eu sei bem,
e com o tal palavrão
eu também comungo,
pois é...
o glutão-mor
que tranqüilo comia
mais de um quilo
e roía até o osso,
agora,
mal come um lapo
que já não tem fome,
todavia,
engole sapo todo dia
no café, no almoço e no jantar,
e engole
sem queixa e alvoroço
que o topete foi embora
e paladar de asilo é bem pior,
mas,
uma regurgitação
pode abalar
a partilha da herança,
então,
por precaução,
a família se mete
e não deixa
que você tome
nem um gole de birita,
se você
cogita de fumar,
a prole grita
e na frente da vizinhança
a mulher lhe dá um pito,
quando você
quer bater papo,
quem é mais moço,
se não estiver
carente de tutu,
a dizer não se limita,
e quem não é
luta com um fiapo de audição
e o que é dito não escuta,
sem permissão,
tevê você não vê,
mas,
quando lhe dão,
você faz confusão
com a imagem nublada
e vê urubu
torcendo pelo Flu,
quando você teima
e tremendo passa a mão
crente
que na empregada
a mão está passando,
ela acha graça
que na miragem
a mão você passa
e se queima
que o quente
que você acha
é panela no fogão,
e a vizinha,
que pra você
é fofa e novinha,
além de balofa,
de trinta tem bem mais,
e a barriga
encafua numa cinta
pra na rua fazer bonito,
mas,
com a janela escancarada,
ela fica nua e não liga não
porque
está cansada de saber
que você se atrapalha
com a memória falha e lerda
e fica sem entender a questão,
fica sem saber
se é História ou Geografia,
pois é...
como alguém
já disse um dia,
a velhice é uma merda!