quarta-feira, setembro 10, 2008

Desabafo carioca

Sou carioca,
mas,
estou cansado
de tanto boboca
metido a malandro,
de tanto canalha
travestido de santo,
de tanta trampa e bandalha,
estou cansado
de ter que encarar
tanto meandro e atalho
pra ir de casa ao trabalho
sem cair na mão do bandido,
sem fazer escala em cova rasa,
afinal,
não sou à prova de bala,
vou pra Sampa,
pessoal,
e vou ficar numa boa
andando a pé por lá,
indo e vindo
à pampa e ao léu,
e subindo e descendo
e correndo da garoa
e caprichando no pedido:
“um chopes e dois pastel, meu!”,
e caprichando até
ficar craque no sotaque:
“um chopes e dois pastel, meu!”;
depois,
com olhos de cifrão,
vou olhar o dinheiro
que pela Paulista
transita aos molhos,
e não tenho nem idéia
do montão de grana
que pela Paulicéia tansita,
mas,
nem o tutu
vai me fazer
perder de vista
a linda paulistana
que a São João ilumina,
e meu itinerário vai ter
Seminário e Quintino Bocaiúva
que me cai como uma luva
um fino Panamá
da Ópera, da El Sombrero,
da Paulista e d’A Esquina,
e da Paissandu lá no Paissandu
e com direito
a bauru no Ponto Chic,
resumindo a ópera,
indo desse jeito,
enquanto não ficar pronto,
vou andar muito por ali,
e ainda vou ter pique
pra saborear o Bixiga
e vou sair de lá
com o rei na barriga,
quer dizer,
com la regina della cucina!,
e vou comer
sushi e sashimi na Liberdade,
e usando o hashi
que aqui nunca usei,
e vou degustar
o filet do Moraes
na Júlio Mesquita,
orgulho da cidade,
e vou cantarolando
canção do Adoniram
de quem sou fã,
e fã incondicional,
e vou fazer a digestão
cruzando a Consolação
de cima a baixo,
e vou respirar
o clima sensacional do Brás,
agora,
bicho,
quando bater
aquela saudade louca
na hora de sossegar o facho,
vou matar a saudade na Boca do Lixo!