quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Nem em bruxa dá certo

Nunca vi feiticeira
dar bobeira
tão mole assim
e tão feliz com um nasal
que mais parece chafariz,
no botequim,
pra espanto geral,
deu o gole do santo
e com gosto pagou o trago
do pinguço pedinchão,
e lhe curou o soluço,
fez questão de derramar
pó errado no caldeirão
e, em vez
de poção indigesta,
fez pudim caramelado,
fez festa, afago
e amparou ancião
cansado da lavoura
que achou largado
em posto de saúde,
e, veja você,
perdeu brevê e vassoura
de uma vez só
que teve dó da velhinha
e tomou atitude,
parou em lugar proibido
e a cruzar a rua
ajudou a vovozinha,
pra completar,
bate de frente
com mago envolvido
em estrago e falcatrua,
ajuda com desvelo
gente miúda de orfanato,
não divulga fofoca
nem provoca boato,
não julga sem prova,
nem é de botar
a tesoura em ninguém,
e inova no ofício
que tem o vício
de fazer magia boa
e, em vez de uivo
e gargalhada sombria,
paz e amor apregoa animada,
puxa!,
já li folheto de bruxa
e não vi
desmazelo tamanho
nem no mais progessista,
mas,
pra ser franco,
também
nunca tinha posto a vista
em feiticeira
com cabeleira dessa cor!,
e o cabelo não é preto
nem branco nem ruivo nem castanho!