quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Não cai em nós como uma luva

Chuva de verão
não cai em nós
como uma luva
porque
a vertente engrossa
e destroça a barreira
que pega a gente
e lá pra foz do Rio
nos carrega a corrente
com geladeira, sofá e fogão,
e a gente
vai sem dar um pio,
e só flutua
após abotoar o paletó,
e vai dar em Ipanema,
e a areia da praia cheia
a arraia-miúda tumultua,
o que não é de bom-tom,
então,
aquela gente boa de lá
blasfema, pragueja e nos maldiçoa,
mas,
meu irmão,
veja que bela ironia,
quem chegou sem ajuda de vela
é recebido por quatro
e as quatro têm serventia,
mostram o lugar do fardo
que está ao aguardo do rabecão,
todavia,
apesar do feriado,
a fiscalização atua
e autua nossa morte forasteira
por não ter passaporte
e autorização
pra morrer dessa maneira
e virar trambolho no calçadão,
e, de olho arregalado e queixo caído,
não sei bem
se em razão da morte ou do susto,
fica ciente o falecido
que vai ter de pagar multa
e de arcar
com o custo do transporte,
e indigente ninguém indulta!