quinta-feira, dezembro 07, 2006

Apesar

Apesar de ser
a tônica da família
a dureza crônica,
apesar
do branco
que dá no cardápio
bem na hora
que vem pra mesa,
apesar
da mobilidade da mobília
que do lar vai ao prego,
do prego volta ao lar
e no lar não se demora,
apesar
da maldade do larápio
que nem assim me alivia
e até tamanco
já tomou de mim,
apesar
de não ter seguro-saúde,
poupança
nem lembrança
de ter tido tutu no banco,
apesar
de não usar sapato amiúde
pra não gastar o furo,
apesar de ter miado
e virado bode
o gato que pus na luz,
apesar do botijão
que não pode
nem ouvir falar em gás
porque tem alergia,
apesar
dessa pobreza tenaz,
apesar
de ser um plebeu
que tem
um dia-a-dia medonho
e não tem
nem onde cair morto,
meu irmão,
da baronesa
eu não abro mão,
entorno até ficar torto,
aí,
parati saindo pelo ladrão,
eu encorno
e sonho que sou barão!