terça-feira, dezembro 05, 2006

Auto-retrato

Sou essa figura,
mistura
de rábula e poeta menor
e meu dia-a-dia
é uma parábola chinfrim
escrita em gíria castiça,
mas,
é melhor assim
que com valquíria noviça
tocando sineta
atrás de mim
pra mostrar serviço,
é isso mesmo...
além disso,
sou essa loucura concreta
que me repleta
de mania e veneta
que nenhum dicionário cita,
sou sócio honorário do ócio
e da conversa fiada,
e partidário da dieta
da moela, do chouriço
da lingüiça e do torresmo
regada com muita cachaça,
aí,
cheio dela,
dou de achar graça à toa
e cismo de repetir
o que leio em banheiro de bar,
mas,
um aforismo sanitário
me fez descobrir
que o dinheiro
não é a saída de nada,
pelo contrário,
é a entrada pra vida boa,
bem,
além de prosaico,
sou feio, arcaico,
meio alheio
e não sou nada altivo,
vivo de camiseta,
calça de brim
e mocassim cambeta,
durmo e acordo tarde,
quando pinto e bordo
e o coração
fica tinto e encarde,
me ponho de molho na canção
e sonho de olho aberto,
se tudo anda certo demais
ou alguém me faz mercê
sem razão aparente,
fico cismado,
por fim,
meu camarada,
digo que tanto faz,
que não ligo pra nada,
mas,
tudo me afeta,
e assim
vou indo em frente,
quer dizer,
vou indo de lado
que atrás
vem vindo gente paca
e não sou babaca
de deixar o meu na reta!