quinta-feira, junho 08, 2006

Esse ele

Ele aprecia entrada franca
e boca-livre,
conforme a entrada
é mais franca
e a boca é mais livre,
mais ele aprecia,
ele não dorme de touca,
ele é fã de carteirinha
do farinha pouca,
meu pirão primeiro,
ele banca o intelectual
e enuncia
relha e velha expressão
sem preposição
e com adverbial cacofonia:
“sã mente corpo são”;
ele é useiro e vezeiro
em conto e pulo-do-gato,
especialmente,
em conto-do-vigário
e da carochinha,
basta ele achar pela frente
um mais tonto,
mais otário do que ele,
e ele está sempre pronto
a tirar o corpo fora
pra não pagar o pato,
e ele comemora
quando o pato
é pago por alguém,
agora,
ele fica gago, tremilica e até chora
quando tem que pagar
e ele chega a se inflar de indignação
quando o pagão é sua nega,
amigo ou parente chegado,
mas,
se o pagador for inimigo,
sogra, sogro,
cunhada ou cunhado,
ele até malogra feliz
e é capaz de pedir bis
de tanto que se apraz
com o remate do malogro,
enfim,
até aí,
nada de mais,
que há gente assim
em qualquer local
desse disparate global,
é um denominador comum,
mas aqui,
o numerador é atroz,
sua dimensão
faz a fração
ser quase igual a um,
é isso aí!,
entre nós,
esse ele
é pronome bem universal
em gênero, número e grau!