segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Verão no asfalto

O verão aquece o asfalto
que ferve que só
meu galipão fervia
e não tem dó
do pezinho da morena,
e a morena
pra mim é uma uva,
e que se conserve assim!,

todavia,
uva é fruta
passada e pequena,
hoje em dia,
graças ao progresso,
a fruta é maior,
aliás, bem maior!,
e o ponteiro gira
e a danada
não mais vira passa,
o progresso é maneiro...
agora,
causa confusão,
é!!!, tenho certeza que é!!!,
não!!!, tenho certeza que não!!!,
é ou não é?!?!?!,
causa ou não causa?!,
bem,
pelo sim, pelo não,
pausa pra meditação!,

e o asfalto
amolece o salto alto,
e a morena
solta gritinho erótico,
faz beicinho e chora
chorinho hipnótico,
chora à la “Brasileirinho”,

sai milênio, entra milênio
e o chorinho não passa!,

e abunda a ajuda
frenética, eclética,
ou melhor, sincrética,
bossa bem nossa!,
e inunda a praça
um cheiro intenso
de incenso, arruda e suor,

mas,
tem gente que alega porre
e se apega
à ação diurética da cervejota,
lorota!,
a bem da verdade,
essa gente
mija por aí em bloco
porque tem o tico
de fazer de penico a cidade,
e um Rio de urina corre
e o Rio se afunda na fedentina,

vá mijar no banheiro!, mijão!,

bem,
o foco é a morena
e a morena é uma só,
e tem tribo bradando:
“farinha pouca,
meu pirão primeiro,
e a ética que se funda!”,
e tem bando passando recibo,
e essa rinha é muito louca,

e tem a vasa
que não poupa a infância
que na esquina tá dando sopa
porque não tem casa,
ou porque não tem escola,
ou porque na sala não há professor,
e lá se vai a infância pela latrina...

e um cínico,
de branco à la doutor,
não dá bola
pra tranco e bafafá,
entra em cena
e examina e embala
o tornozelo da morena,
mas,
ao vê-lo com olho clínico,
um profissional aventa indício
de exercício ilegal da medicina,
e chama a polícia,
e com a notícia a chama aumenta,
porém,
se de cínico merece a pecha,
de babaca
o cara não tem nada
e nem se abala
que saca cada brecha do sistema,
poxa!, como o sistema tem brecha!,
e o cara
a panturrilha escala
e já fala em coxa e virilha,

e um patife
da Baixada ou de Ipanema,
um machucho barrigudinho
trajando terno de grife
que freou o veículo de luxo
e apeou do celular ultramoderno
e que pode até
ser cafona e ridículo,
mas que de trouxa não tem nada,
pra ganhar espaço na zona,
dá de exaltar
o que, por aqui,
é o mapa da mina,
padrinho e pedigree,
e tem meia, cueca e mala cheia de grana,
e se dana muita gente que rala,
e não escapa
nem gente fina com bom currículo...

e você,
boneca,
tem calcinha e sutiã,
é... sutiã...
sustenta-seios, porta-seios, califom, estrofião, corpete, corpinho...
aliás,
nessa ocasião, você sabe,
o macete é usar
um sutiã bem larguinho
e uma baita calcinha
porque cabe muito mais gaita!,

aí,
um exemplar
de uma espécie
a um passo da extinção,
e em preservação não ouço falar!,
bem,
um moço cavalheiro
oferece o lenço e o braço,
mas,
à espécie o solo é infenso
e o cavalheirismo não floresce,
e ainda cismo e me amolo com isso...

e tem sapateiro
na cola do calcanhar
e não do sapato da moça,
e o desvio de função é claro,
e tem gangue
achando um barato
andar no calcanhar da cola
e uma poça de sangue no olhar do guri,
e, é claro, mais uma geração no desvio,
e daí?!
se isso ninguém vê...

e vem gelo daqui e dali
voando na gravata-borboleta
e preta que, veja você,
não reclama do atropelo
nem da cliente
exigente pra chuchu:
“põe aqui!”, põe ali!”,
“tira!, tira!, tá doendo!”,
e a gravata-borboleta
esvoaçando e desfazendo o nó,

só não vem a Brahma que eu pedi!,
aí, Zeca, dá pra dar uma ajudinha?!,

e tem Julieta
se metendo no alvoroço,
falando grosso pra cacete,
estendendo tapete vermelho
e a gatinha afagando por extenso,
é munheca no joelho, no artelho, no...
bem,
deixa pra lá...
é... Romeu,
penso eu que você...

e há ambulante
em plena atividade
e a todo instante
dando no berro
seu recado à morena,
o que não é novidade pra ninguém,
e um segurança privado,
cartucheira vazia
que é dia de folga,
se empolga e afiança
que pra sacar ainda tem um ferro,

e, pra ver
o que por aqui
ainda ninguém viu,
e deve ser muito linda!,
tem contorcionista
plantando bananeira
e o corpanzil
virando pelo avesso
apesar da espinhela caída,
e tem cambista
achando que a saída
é rasgar a tabela
e pagar qualquer preço
pra recomprar de turista
um bom lugar no gargarejo,

e tem menestrel de bordel
aproveitando o ensejo
e fazendo chorar
machão
de emoção filial
e madame de saudade,
e não é vexame não,
afinal,
mãe é mãe
e mocidade é mocidade,

aliás,
você que se faz
de palmatória do mundo,
é bom você saber,
segundo seu Zé do Nabo,
que não tem
o vezo de cantar vitória
nem o rabo preso com ninguém,
sua genitora,
quer dizer,
a leitora o enganou
quando leu a sua mão,
e, se seu Zé do Nabo falou,
tá falado!, entendeu o recado?!,

e tem otário inato
apostando
tudo que tem
num trato revolucionário,
estimulação imunológica
com a inoculação,
no tronco da sua árvore,
de células-tronco
da árvore genealógica
de um vigarista hereditário,
e o doador promete
terapia sem dor
e total assepsia
que a introdução é virtual
e as células vêm via Internet,

e tenta iludir a morena
um pacifista
cansado de guerra
que não se manca,
tenta cobrir a pomba
com bandeira branca
que já não se aguenta,
e se ferra
e depauperado ele tomba
que a trincheira é um colosso!,

e tem operário aflito
ao pensar no pito do patrão,
porém,
alegando a mais-valia
e esticando a hora do almoço
pra tentar a sorte
com vale-transporte e tíquete-refeição,
o que mais o salário-mínimo tem?!, o mínimo?!,

e tem até senhora,
titia cansada de consolação,
entrando na dança,
queimando o pé no rolo
e levantando a saia
na esperança
de virar fatia do bolo,
e levando uma vaia danada!,

e na pista
tem um misto
de Narciso e Adônis,
short, camiseta,
silicone embutido,
fones de ouvido
e sorriso de ninfeta,
e, pelo visto,
a torcida tá dividida
que tá dando na vista
tanto quanto a morena,

e um rapagão
visivelmente avantajado
sem acanhamento mete a cara,
apela e não para
de falar em mandar brasa,
e a morena se derrete
e seu assanho extravasa de uma vez,

e vocês ainda creem
que tamanho não é documento...

e o papel do fogaréu
no processo de ebulição,
na frente do pai,
é detalhado
por um pivete
que saca paca do assunto
porque vê novela na tevê,
e seu entusiasmo faz sucesso
e o povão vai junto ao orgasmo!