segunda-feira, julho 17, 2006

O normal é não ser são!

Há louco demais,
louco
que não acaba mais,
louco que se gaba de ser
e louco que se gaba
de não ser louco,
louco
que ficou louco de uma vez
e louco que se fez louco
pouco a pouco,
há louco minguado e louco farto,
há aqualouco
e louco que não sai da água,
louco que mágoa guarda
e louco que não guarda,
louco avaro e louco pródigo,
louco caro e louco módico,
louco claro e louco confuso,
há louco
que é um livro aberto,
livro escrito
pra que entenda até analfabeto,
e louco abstruso e secreto
que não desvenda
nem o sábio
mais hábil e louco,
há louco certo e louco errado,
louco desregrado
e louco metódico,
louco culto e erudito
e louco de código bem restrito,
há louco adulto e louco infantil,
louco que vive a mil
e louco desanimado,
há louco,
cá entre nós,
que já era danado de louco
lá no ventre,
louco nato,
e há louco
que ficou louco
após o parto,
ficou louco
em função do contato,
ou, então,
porque fez voto,
há louco
trancado no quarto
e louco
solto no meio da rua,
há louco
que só fica louco
se alguém disser
que ele é louco
e louco
que louco fica
se se disser
que louco ele não é,
é muito louco, né?!,
há louco de feito e de fato
que sempre dá um jeito
de sair bem na foto
e louco que fica na sua,
que não quer sair na foto
de jeito nenhum,
há louco
louco por zero a zero,
por um a um, dois a dois, três a três
por um a zero ou zero a um,
ou por um, dois, três
ou até mais,
e até de uma vez,
pois louco capaz de topar
qualquer placar,
há louco
que acha o fino
imitar louco famoso
e louco que acha horroso
não ser um louco genuíno,
há louco
tão louco pelo seu louco nicho
que é capaz
de se irritar e virar bicho
se vier algum louco
atrás do seu louco lugar
e há louco
que jamais sossega,
não se apega nem ao lar,
há louco titular e louco reserva,
há louco
que é fogo na roupa,
faz a maior zorra
e nos faz ter inveja
de sua régia porra-louquice
e louco cuja maluquice
não nos poupa,
nos faz sentir muito dó,
há louco com e sem medida,
há louco com doidice suja
que ficou louco
por causa de pó, erva,
bebida e jogo,
fuja desse louco
que esse louco é fogo!,
e há o louco por romance
que não perde a chance
de ficar louco
de paixão por uma mulher,
há louco que finge ser esfinge
porque não quer
dar explicação
sobre essa vida louca
e o louco
que fala pelos cotovelos
e o faz literalmente,
e não se cala
apesar de todos os apelos,
há louco inteligente e fidalgo,
e o louco tacanho e grosso,
há louco comum e louco estranho,
louco justo e louco injusto,
há louco
com muita aptidão
pra qualquer coisa louca
e louco com muito pouca,
há louco vetusto e louco moço,
louco esgalgo e louco atarracado,
há louco
que não liga pra nada
e louco ligado em cada tostão,
há louco sem poder
e louco com poder
saindo pelo ladrão,
em geral,
podres poderes,
como disse o Caetano,
há loucos com e sem haveres,
e os sem
não são poucos,
há loucos
de tudo que é sorte,
do louco insano e rasgado
ao louco com porte
e bem posto,
louco por gosto,
o chamado louco por esporte,
conclusão:
em razão da loucura
da conjuntura atual,
o normal
é não ser são!