quarta-feira, julho 26, 2006

Zé Arisco

"Marcha soldado,
cabeça de papel,
se não marchar direito,
vai preso pro quartel,"
não,
tu não vais não,
menino de rua,
vais pr'alguma vala
cavada nesse inferno,
neste eterno desatino,
que o fuzil atira,
a bala não é de mentira
e rasga tuas entranhas,
e te perdes,
enquanto abocanhas teu soldo,
soldo de soldado
lotado em ruelas, becos e favelas,
"Pai Francisco entrou na roda,
tocando o seu violão,
pororompompom,
vem de lá seu delegado,
e Pai Francisco vai pra prisão,
como ele vem todo requebrado,
parece um boneco desengonçado...”,
"Zé Arisco entrou na coça,
botou sangue do pulmão,
pororompompom,
o pessoal ficou calado
e Zé Arisco foi pro caixão,
como ele foi muito torturado,
morreu um menor abandonado...”,
assim,
vais indo por aí,
pois quem devia,
não zela por ti,
te larga vestido nessa pele amarela,
azul de fome,
passando em branco,
sem letra e sem nome,
entre pungas e malotes de bancos,
embora verde ainda,
já findas qualquer dia,
e velas, touca, sunga, numa noite fria,
"murcha coitado,
pereça por guinéu,
vão te pegar de jeito,
deixar teu corpo ao léu,
murcha coitado,
pereça por guinéu,
vão te pegar de jeito,
deixar teu corpo ao léu,
murcha coitado,
pereça por guinéu,
..."