terça-feira, janeiro 10, 2006

Cheire de verdade essa flor

Cheire de verdade essa flor
em vez de se exculpar
dizendo a todo momento
que não é flor que se cheire
porque é de brotar
em acostamento de estrada,
porque é de medrar
em barro, vasa, água parada,
cheire essa flor
e a imagine sem praga
em jarro que enfeita
uma casa afeita ao amor,
cheire essa flor
como se não fosse
uma flor à venda
na vitrine do prazer,
tente ver as prendas
que na alma ela cultiva,
tente ver a nativa graça
que não se abala
com trauma e cinismo,
faça por onde
notar o poder do lume
que seu otimismo aviva
mesmo quando o mar
não está pra peixe,
tente inalar
o perfume amador
que se esconde
sob o odor do ofício
que com artifício ela exala,
sinta como é delicada essa flor
desavergonhada por necessidade,
e sem vaidade,
sem preconceito,
deixe que essa flor
tenha o direito
de ser flor de verdade
ao florescer no seu peito!