segunda-feira, março 13, 2006

Flores que mercam amores

Margarida branca,
e negra, e mestiça, e amarela,
Margarida
que na negra rua se abanca
e nua entra na liça,
Margarida bela, linda,
esguia e fogosa ainda,
assanhada qual almeia,
e Margarida
horrorosa, rota e vazia
que mais nada
da vida anseia,
que já não lhe resta
nem uma miséria de gota,
e há ainda
a Margarida que se alheia
e que se põe a vadiar
cheia a olhos vistos,
mas,
não se presta a chorar,
por isto,
ri como se fosse pilhéria,
é um misto
de noviças viçosas e cruas,
inda ontem donzelas,
que contrastam
com as antigas e idosas
que se arrastam,
Margaridas em negras ruas,
e negras, e mestiças, e brancas,
e amarelas Margaridas,
Margaridas frágeis, fáceis, dóceis,
mas,
são elas
fictícias Margaridas,
pois Franciscas e Aparícias,
e são ariscas
e não são francas,
com truques e manhas,
simulam, dissimulam e fingem
que não há outra saída,
que os fregueses,
muitas vezes,
as cercam
e a muque lhes impingem
suas taras e suas sanhas,
umas são caras,
outras já não são não,
mas,
todas são flores,
flores que mercam amores!