quinta-feira, março 23, 2006

Sozinho um gari doura a Sapucaí

Desista da besteira
de ficar infeliz,
de levar a sério
a falta de luxo,
agüente o repuxo!,
aliás,
é verdade
que o luxo
é capaz de fazer vista,
mas,
vista faz
à maneira do verniz!,
portanto,
enfrente o desafio,
não se grile com realidade,
assimile a melancolia
e não reze pra fidalguia
não vir ao desfile,
que venham
Império e Imperatriz!,
se preze e não torça
pra que em fevereiro
o Salgueiro esteja murcho,
pra que não dê a Mangueira
fruta gostosa
e pra que a Grande Rio
não venha caudalosa
e escoe
qual ribeiro pela pista,
ou, até,
pra que a Padre Miguel
venha sem fé e fervor,
se preze e não torça
pra que venha singela
e sem força
pra se abrir a Portela
e pra que não voe a Beija-Flor,
não faz sentido
essa coisa maluca
de pedir a desunião
da União da Ilha,
da Unidos da Ponte,
da Tijuca e de Vila Isabel,
preste atenção,
é fonte gratuita de animação
o ardor da torcida,
é fonte gratuita
de esplendor e inspiração
essa maravilha de Céu,
portanto,
esqueça ibope,
Tradição,
tope seu desafio
e fantasie a passarela
com sua emoção,
agora é a hora
de aproveitar o embalo
e mostrar no pé
que pode ser também
a tal do Carnaval
quem é bamba
no samba do dia-a-dia,
é hora de expor
seu enredo cotidiano
que começa bem cedo,
antes até do canto do galo,
e só finda
quase de madrugada,
e, entra ano, sai ano,
um pingo de folga,
se tanto,
empolga um domingo,
dia santo
ou feriado nacional,
é hora de mostrar
o desassombro e a garra
com que
você leva na marra
o morro nos ombros,
e não protesta
nem pede socorro,
aí,
modesta Escola,
bola pra frente!,
cresça e apareça
com sua gente,
e não esqueça,
se uma andorinha sozinha
não faz verão,
sozinho um gari
doura a Sapucaí
de vassoura na mão,
e sem subvenção!