quarta-feira, setembro 13, 2006

Empurro com a barriga

Não me iludo,
posso ser tudo,
mas,
burro não sou não,
por isso,
me toco com cobranças,
especialmente de cobrador,
esse ser
que no coração
tem cifrão em vez de amor,
aí,
invoco ditame moral,
falo em quebrar lanças
pra livrar do vexame
a reputação ilibada,
convoco a Osória,
que a patroa é danada
e prega peça
com a maior cara-de-pau,
quer dizer,
faço o que posso
e o que sei fazer,
e ainda faço figa e promessa
pra dar tudo certo,
em geral,
saio do aperto numa boa
e empurro com a barriga
compromisso e promissória,
mas,
quando o bicho pega
e não há conserto,
primeiramente
a gente entrega
o que não é nosso
e vê se dar
pra escapar do bochicho;
no boteco,
capricho no repeteco,
juro que estou duro
e faço tanto apelo
que dá pêlo o português
e mais uma vez
penduro a despesa,
no fim do mês,
com muita esperteza,
adio sine die o pagamento
sem perder o crédito,
mas,
é bom que se diga,
meu argumento
é inédito toda vez;
quando é necessário,
faço uma cena
e passo por otário
se assim desperto pena
e evito pra mim
rolo, bolo, e confusão,
e tem tolo à beça
que ainda entra nessa,
entranto,
quando sinto que o tiro
pode sair pela culatra,
eu me viro
e dou a volta por cima,
com a vista encharcada,
deploro, imploro,
conto história tão triste
com voz tão ambargada
que comovo até psiquiatra,
todavia,
se alguém se arrelia,
põe entrave
e o clima fica ruim,
com o cenho fechado
e grave expressão,
ameaço adotar
a medida extrema,
dar cabo da vida,
só não digo da vida de quem,
até pareço
artista de cinema,
e me gabo do desempenho
que não tem
quem não acredite!,
seja do povo, seja da elite,
enfim,
empurro com a barriga
essa vida inglória
e, nessa lufa-lufa,
de quando em quando,
estufa a barriga da Osória!