quinta-feira, setembro 28, 2006

Trilogia marginal

“Com o ferro na mão,
Duda Cobra-Mal-Criada
não dava chance ao povo
e ganhava no berro”,
obra inicial publicada,
mas já saiu do prelo
o novo romance:
“Quando chegar a sua vez,
dance conforme a canção
no xadrez da Distrital
e de chinelo e bermuda”,
mas,
para que se forme
a trilogia marginal
que o dia a dia do autor
anunciava a todo o vapor,
vem aí a obra final,
“Depois de batido o martelo,
de macacão listado,
aqui da prisão
contemplo a vida
que lá fora é vivida",
a ser editado
após transitar em julgado
o que já foi decidido,
a condenação,
e o estrondoso sucesso literário
só vai perder pro ar explosivo
que o escritor cativo
respira e transpira
pra tirar o seu da reta,
sua meta principal
no recesso carcerário,
que é preciso ser jeitoso
num cubículo ridículo
e com senões à beça:
é quente pra cachorro,
têm surra e curra,
e não peça socorro
que não se ouve quem urra
pois tem gente suficiente
pra abafar qualquer esporro,
Ali Babá
e bem mais de 40 ladrões,
e só há um boi,
quem foi, foi,
e pra visão ser completa,
disenteria, seborréia,
pé-de-atleta,
piorréia, urticária,
infecção urinária,
só mazela abunda na cela,
pra se ter
uma idéia profunda,
uma lista só não chega,
e tudo sem o calor da nega!,
agora,
passada a hora
e passando a vida em revista,
o autor se diz malsucedido,
mas,
o exemplo será seguido
por aquele malandro
que não percebe
que o mundo
o faz de otário
e seguirá sendo perquirido
pelo analista social
que no meandro do assunto
mergulha de cabeça
com seu cabedal
panfletário e mixe,
e só faz borbulha,
e o especialista
acha que vai fundo,
por incrível que pareça,
não atravessaria
nem a fina fatia de presunto
daquele sanduíche
do proprietário sovina
daquela padaria lá da esquina.