terça-feira, agosto 02, 2005

Faz de mim o que bem quer

Como um escroque indecente,
um arrivista sem escrúpulo,
com um toque manhoso,
ganhei o beijo de sua boca sedenta
e o sabor de menta de seu chiclete,
a goma tentava mascarar
o aroma do malte e do lúpulo
e disfarçar seu pileque,
como um moleque abandonado,
que sob vistas indiferentes
vira pivete audacioso,
simulei o choque
e afanei um abraço ardente
de seus braços fragilizados e pedintes
que abraçavam chorosamente
aquele recente vazio,
como um bandido feroz
e algoz impiedoso,
sob a mira do meu desejo
e o fogo de outros tragos,
tomei conta do jogo
e raptei a fêmea carente de afago e afeto,
com requinte,
satisfiz caprichos e desvarios,
fiz dela o objeto do meu prazer,
como um vadio safado e sem pudor
que não teme fazer sofrer,
entrei com acinte
naquele peito recém-abandonado,
e pela porta da frente,
que havia ficado entreaberta,
e, a sangue-frio, cravei nele o amor,
na hora certa,
sem licença e aviso,
com aquela arrogância
de quem dispensa permissão
e aquela ilusão
do macho que se acha capaz
de dominar uma mulher,
me intitulei dono do seu coração,
mas não tardou o castigo,
submissa e sorrateira,
com aquele jeito manso
e a constância
de quem conhece o mister
de dar ao tempo
o tempo que for preciso,
o tempo que ele quiser,
levou a liça à sua maneira,
e fez comigo
bem mais do que fiz com ela,
lutou cada hora
sem trégua e descanso,
de cada légua,
venceu cada braça
com raça e com garra,
por fim,
acabou com minha farra,
e se tornou minha senhora,
agora,
a mulher
faz de mim o que bem quer!