terça-feira, agosto 02, 2005

Como seria bom!

Como seria bom
poder andar por aí
cheio de nada pra fazer,
de mãos dadas com aquela preguiça
que não cabe em foto 3x4,
com a cabeça leve
de quem não sabe
nem quer saber
da missa a metade,
e menos ainda do pátrio,
do mátrio poder,
andar por aí
como quem não tem mulher,
não sabe sequer
se deve o aluguer a alguém
e não tem nenhum vintém,
mas a rua paga em dia,
como seria bom
escancarar aquele bocejo
que as duas mãos
fazem questão de não esconder,
e sentar num canto de via
pelo simples desejo
de outro ponto de vista,
e olhar,
e ouvir,
e cheirar,
e sentir a natureza
com a sutileza do artista
e a pressa do vagabundo,
jogar conversa fora por horas a fio,
discutindo comigo mesmo
a influência do sexo dos anjos
naqueles marmanjos
que têm cio com freqüência,
e girar,
e pirar com esse mundo,
e em passos tão indolentes,
que ficar parado não seria diferente,
não quero muito,
gente,
de fato,
quero mesmo muito pouco,
só um dia por aí,
a esmo,
desocupado,
despreocupado,
exatamente como um louco!