terça-feira, agosto 02, 2005

Ledo engano!

Que ledo engano!,
a palavra não é fria nem vazia
se alumia o pensamento,
se nos aquece a fala
se exala sentimento,
se nos estremece
quando desafia crenças, credos, medos,
a palavra não é fria nem vazia
quando nos deixa ufanos,
e tanto,
que a gente esquece
perdas e danos
quando ela tremula na alma
qual bandeira ao vento,
soberba no mastro,
quando a palavra
desencrava a emoção,
desentala o trauma,
a boca não se cala,
faz ir a voz em correria,
o que estava no peito,
bem lá no fundo,
andava por ali
e a gente nem sabia,
ganha volume de oceano
e toma conta de tudo,
e por onde passa
deixa seu rastro,
marcas de inundação,
e não conhece o mundo
forte, barricada ou barreira
capaz de contê-la,
sequer a mordaça da morte
pode detê-la,
calar o amante ou o herói,
bóia-fria, prostituta ou ladrão,
ou qualquer outro irmão
que se levante do cotidiano
e dela lance mão
pra gritar a dor que dói lá dentro,
que rói como cicuta,
ou aquele amor
que, do centro do coração,
vem pronto
pra lutar qualquer luta.