terça-feira, agosto 02, 2005

Subterfúgio

Pelo tempo
é tecido um deserto repleto de medo,
o medo da desilusão;
retidos na rede,
os dias pacatos,
as quatro paredes,
e mulher, filhos, os filhos dos filhos,
e tudo exato qual pulso morto;
tamanha a exatidão,
que vive o peito
o conforto desse subterfúgio,
e se acanha,
não se assanha mais,
nada além de discreta emoção,
refúgio com jeito de reta final,
e pode,
muito bem,
ser cedo ainda,
sabe-se lá quando ele finda?,
quem sabe,
mal chegou ao meio?,
mas o receio
não tolera os riscos das feridas,
nem da vida as grandes quimeras,
proíbe o sangue
de sentir novos veios,
hipnotiza os vasos,
o ocaso se antecipa,
imuniza contra mágoas,
mas,
em contrapartida,
nos deságua nas artérias do cotidiano,
os fatos sem fogo,
o jogo frio,
sem arrepios,
sem tesão,
maldito zero a zero,
sem os gritos,
os aflitos
mas vivos reclamos
contra perdas e danos;
depois da festa,
resta esse conta-corrente
que não tem passivo,
nem o ardente ativo da paixão!