terça-feira, agosto 02, 2005

Inocência: por que a roubamos de nós?

Agora,
com freqüência,
imerso em silêncio intenso,
penso horas a fio
e folheio alfarrábios
em busca da Inocência,
e a poeira da memória
quase não me deixa ler,
será que ainda descubro
por que a roubamos de nós?!;
mas já pude ver
quão hábil,
quão ágil era beijo
que beijávamos
com o rosto todo rubro,
se nos deixavam a sós
apenas por um segundo,
era profundo,
embora restrito aos lábios,
era um toque infinito
e tão leve,
tão breve;
já me lembrou o sorriso,
tão ingênuo quão bonito,
que sorria das carícias,
que era uma delícia
acariciar assim,
carinhos que não tinham fim,
mesmo durando um instante;
já me lembraram as mãos dadas
indo passo a passo,
entrelaçando os dedos,
suando nossos segredos,
denunciando emoções;
já recordei os abraços,
quando nossos corações
juntavam os compassos
e trocavam confidências,
pra que palavras?,
pra que conversas?,
se nossos olhos
não nos escondiam nada,
se nada mais era preciso
quando se encontravam;
pra que juras e promessas?!,
se nosso amor
era perenemente passageiro?!;
se não havia pecado,
se era imaculado o nosso amor,
pra que censura?!;
se nossas almas andavam nuas,
exibiam as vontades,
as minhas,
as suas,
pra que vergonha?!,
pra que pudor?!;
se nosso ledo querer
era tão terno,
e era instantaneamente eterno,
por que ter medo?!;
Inocência,
se nos fazia tão felizes,
por que a roubamos de nós?!