quarta-feira, junho 01, 2005

Mas não vá assim

Se quiser,
se acha que é hora,
vá em frente,
mulher,
vá embora,
mas não vá assim,
exibindo o despeito
qual blusa cínica exibe os seios,
ensaiando essa mímica confusa
que mais parece espasmo
de fantoche sem recheio,
com esse sarcasmo indecente
envergonhando o peito
qual broche pervertido,
com essa exigência de escusa
tão reclusa na inclemência
que recusa dar ouvidos ao perdão,
se quiser,
se acha que é hora,
vá em frente,
mulher,
vá embora,
mas não vá assim,
pisando com rancor as lembranças,
ignorando que também foi feliz,
sei que não fiz
o que estava ao meu alcance,
que nem mesmo passei perto,
mas foi nossa a chance,
infelizmente não deu certo,
cada um de nós,
a seu jeito,
tentou entrelaçar os cordões
pra dar um laço no nosso amor,
mas o pano de fundo
acabou puído pelo cotidiano,
não que fosse diferente,
vagabundo,
talvez,
porque foi tecido às pressas,
confiança à beça nas emoções,
nas tais razões
que até a razão desconhece,
talvez,
esperança demais,
com tanta esperança,
quem não esquece os senões?!,
o que fazer?!,
é a vida,
e se é hora de partida,
jogue fora a aliança
e vá embora,
mulher,
mas não vá assim,
me fuzilando,
me olhando com esse olhar
de quem só quer vingança,
e pode acreditar,
não falo por mim!