quarta-feira, junho 01, 2005

Minha loucura, meu regaço

Fujo e saio fora de mim,
busco refúgio em você,
que você
é sempre assim,
dia claro e sereno
que dissolve minha agonia,
remove a venda
que me tolhia os olhos,
neutraliza o veneno
que me enchia a cabeça,
você
me devolve harmonias
que jão não ouvia,
sensações suaves
que a pele já não sentia,
à minha boca
o sabor de poemas
que não declamava mais,
e o breu que me envolvia
se desfaz,
aí,
por águas mansas,
a alma criança rema,
das águas transparentes
vem o chamado dos peixes
e pela porta azul-ondulada
entro em sua moradia,
lá dentro
não há suor nem lágrimas,
e dali ao céu
é um pequeno passo
que sequer desfaz o laço
que ao mar me prendia,
e no lar dos pássaros
a melodia da conversa
me faz falar de nós dois,
e a fala é solta,
livre,
que não há paredes
pra nos ouvir,
depois,
em asas deslumbrantes
desenhadas no ar,
vou à ilha dos animais
e pouso em terras prenhas,
descanso em sombras gentis,
entre frutos brilhantes
e se sacia minha fome,
e não há caça nem colheita,
uma cascata de cristais
envolve e bebe minha sede,
e não há chuva nem estiagem,
e montado no Tempo,
o nome do meu corcel,
faço uma viagem pelo infinito,
e abraço e beijo estrelas,
deixo pra trás os astros,
salto sobre cometas
e a poeira cósmica
esconde meus rastros,
mas,
por pura maldade,
algum doutor
incapaz de ver
o valor de verdade,
me censura
e prescreve meu são pedaço,
sem piedade,
proscreve minha loucura,
meu regaço.