quarta-feira, junho 01, 2005

Mulher...

Mulher...
chora quer de dor lancinante,
quer de insignificante alegria,
quer de farsa, quer de verdade,
chora
quer por solidariedade ao comparsa,
quer pela apatia,
pela indiferença do companheiro,
chora
quer porque é intensa a agonia,
quer porque,
num primeiro instante,
parece o meio pra atingir seu intento,
chora quer de amor, quer de ira,
quer alguém se fira,
quer alguém se cure de uma ferida
que curada não queria ver,
chora quer queira,
quer não queira,
chora
quer seja maneira de comover,
quer seja comoção verdadeira,
quer seja pra se valer do choro,
quer o choro seja pra valer,
e chora quer só, quer em coro,
e chora quer seja pra dar dó,
quer seja porque tem dó de outrem,
e chora
quer pranto de lata, quer de prata, quer de ouro,
chora
quer seja o choro ingrato,
quer seja a ingratidão a razão do choro,
chora
quer seja de fato,
quer seja de encenação,
mulher...
chora quando quer chorar
e quando não quer,
quando quer ser mais mulher
e quando quer mostrar
que não é porque é mulher que chora,
mas porque é hora de chorar,
chora
quer de felicidade, quer de tristeza,
por bondade, por avareza,
quer de maldade, quer de brandura,
quer de mera vontade de chorar,
quer de pura impossibilidade de se conter,
de evitar o choro,
mulher...
chora,
mas,
sem o choro,
é quase impossível saber
se é mesmo você!