quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Que desassossego!

Que desassossego!,
quando creio
que vou
parar no emprego,
nego me dá um bico;
quando penso
em sossegar um tico
no chamego da nega,
chega a prole e perturba;
quando sou forçado
a botar de lado
o apego à vida
pra dar duro pelo pão
no meio da turba,
fico apavorado e tenso
porque não é mole
viver pedindo arrego,
fugindo de ladrão
e de bala perdida;
por fim,
quando sento na sala
e tento ter sossego
pra ler meu jornal,
é o jornal que não sossega,
o furo é chaga e sangra,
sangra de enxarcar os olhos...
e os olhos cega...
e tudo fica escuro,
na manchete,
o mal,
a praga
apaga a esperança,
se anuncia a peste
que nos espia
pela tela da tevê,
a epidemia que avança,
que investe pela internet,
e não vai resolver
fechar tranca, tramela,
janela e cortina,
que amargor, amargura, amaro dia,
que amaro dia, amargor, amargura,
a cada dia,
tudo custa mais caro,
tudo
ainda mais nos assusta;
que desassossego!,
parece que não há norte,
trincheira, forte, vacina
nem branca bandeira,
parece que nada espanca
esse desassossego!