sexta-feira, fevereiro 24, 2006

São os ventos

Me tenta ventania,
cascalhada, pé-de-vento,
me atenta e enfrento,
e a danada vira tufão,
de jeito me pega,
arrebenta o leme,
e treme e teme o timão,
e a danada me carrega,
sem rumo nem prumo,
a vela vai ao limite,
cansaço, exaustão,
então,
quando a vela
já não mais agüenta,
recalmão se apresenta
e dá esperança de bonança,
e aceito o convite
pensando em aragem,
bafagem, viração,
e caio em seu braços,
todavia,
vem calma, calmaria
nenhum vento
e sem vento não há salvação,
não é solução
essa vela inerte e fria
que me subverte,
verte falta de emoção,
e a falta não agüento,
e com o coração
agitação a alma ensaia,
é cochicho daqui e dali,
e o cochicho não falha,
se espalha o bicho
pelo corpo inteiro
que a razão
não está de atalaia,
e saio por aí
a buscar carpinteiro, pampeiro,
carpinteiro-da-praia,
mas,
sou assim,
useiro e vezeiro
em pegar mó de vento,
em me aventurar pela fantasia,
me visto de faraó
e insisto em buscar
o alento do cansim
pra desfraldar minha vela,
como já fui até lá,
levado pelo o afefé,
por sua magia,
mãe Iansã,
tento velejar
em harmatã, simum,
os áfricos,
tento um a um,
entretanto,
vem saudade num áfrico
e venta na vela,
e saudade
me faz dar guinada,
trocar catamarã por jangada
e vou atrás de aracati,
marajó, mossoró,
mas,
o vento se reinventa,
inventa repiquete
e repiquete salta e ronda,
e uma onda me assalta,
inverte a direção,
a cada momento
mais desorientação,
mais se desorienta a vela,
mais me desoriento,
fico sem saber
o que fazer
pra ir adiante,
são os ventos
que põem defronte de mim
só o horizonte,
aberto, deserto, sem fim,
igualmente distante
por mais que tente
chegar mais perto,
horizonte...
sempre igualmente distante!