segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Santo de bar

Santo de bar,
ninguém sabe
qual é o seu altar
nem em que religião
seu culto cabe,
ou,
se na verdade,
é só mais um vulto ufano,
machão e paradoxal,
mais um Fulano
que não abaixa o facho,
por cima,
uma identidade,
outra por baixo do pano,
como é tão comum
nesse nó nacional
em clima de verão tropical
com Carnaval
e festival de bumbum,
santo de bar,
ninguém sabe
se faz algum milagre,
se é um mago
que se abre
com o afago do devoto
e ensina o truque
pra acertar
as centenas da quina,
todas as seis,
e pra ganhar no bicho
com duque de dezena,
uma da hiena,
uma do bagre
e uma da pedrês,
mas,
noto que santo de bar
leva um trago
de cada dose de xinabre
que bebe o devoto,
um lauto, outro mixo,
mas leva,
e nunca vi santo de bar
ficar alto e fazer tititi,
santo de bar
é mesmo bacana,
nem tem time pessoal,
torce pelo do beberrão,
não reprime
nenhum dos três sexos,
não fica perplexo
com cada tom das epidermes
nem com o local da devoção,
serve qualquer um por aí...
tanto faz Marechal Hermes,
Copacabana, Baixada ou Leblon,
mas,
nunca ouvi
alguém chamar
santo de bar pelo nome,
mesmo que o devoto
tome bem mais de uma,
e ninguém tem sua imagem,
em suma,
posso afirmar
de maneira enfática,
santo de bar
não é miragerm
nem besteira não,
e, se ele não se chatear
com a força de expressão,
posso assegurar
que sua glândula hepática
é uma glândula
que não é mole,
pois agüenta um gole
de doses e mais doses
de água-benta
e nem com cirrose esquenta!