terça-feira, abril 12, 2005

Bloco da Saudade

Pra acabar com a nostalgia,
vem aí o bloco
que não aluga batuqueiro
nem organiza a bateria,
pois não precisa
que o mestre grite e apite
pra que ela se orquestre
com o sacolejo dos peitos
e o molejo do traseiro da madrinha,
bloco que não batiza ala
com apelido que tem jeito de mote
que embala festinha de cafona
ou nome de mascote de dona de puteiro,
bloco que não faz samba-enredo
qual manual que o produto não explica,
seja nacional ou estrangeiro,
bloco que seu tema não teoriza
em sinopse que beira o ridículo,
poética qual bula de remédio,
patética besteira qual currículo
de quem se faz de doutor
e não tem nem ensino médio,
bloco que se regala
de fazer folguedo sem favor ou subvenção,
pois não tem custo
nem tem medo
de atravessar o samba e o Rio de Janeiro,
por isso,
não tem diretoria,
dono, patrono, nem bamba honorário,
aí vem o bloco
que não carece de horário, dia e lugar,
nem de rei, rainha e pincesa,
que qualquer hora é hora
e a beleza é poder desfilar,
fazer do asfalto a pista
e pisar nele sem salto alto,
sem artistas, sem destaques com bustos nus
e samba apertado,
agarrado ao tapa-sexo,
bloco que não se produz
nem tem complexo de origem,
pois só tem operários do samba
que não fingem amar a folia
e sabem tocar o barco,
vem aí o Bloco da Saudade
pra acabar com a nostalgia
dos grandes Carnavais
que não estão mais
no mapa dessa cidade,
e, como era de se esperar,
vai desfilar
cravado de flechas musicais
atiradas com os Arcos da Lapa!