quinta-feira, abril 14, 2005

Eu quero

Eu quero dizer besteira
sem pagar multa,
eu quero falar
sem pensar na forma,
na norma culta,
eu quero dar rasteira em dia de branco,
pernada no banco,
e banda na conta de água, luz e gás,
e esquecer a prestação
que cada dia mais avulta,
eu quero usar trevo na orelha,
palito de esguelha na boca
e a unha do mindinho
bem grande,
eu quero aquela vizinha
louca e gostosa,
toda dengosa e parada na minha,
mesmo que seja só
por culpa do vinho ou do brande,
eu quero não ter dó da vovó
que caiu na mumunha do lobo,
eu quero ver
o Zorro fazer papel de bobo
diante do Sargento Garcia,
eu quero ver a patroa
fundir a cuca
e ficar maluca
porque botei o esporro em dia,
fui curto e grosso,
e cem por cento franco
ao falar de adultério,
eu quero levar a sério
romance com uma vadia
e ficar de amor até o pescoço,
eu quero andar pra trás
quando quiserem que eu avance,
tomar porre
sem ter alguém tomando conta,
criticando minha vida tonta,
eu quero que jorre paixão do peito
a despeito de ficar sujeito
à dor-de-cotovelo,
eu quero implorar, chorar, fazer apelo
quando estiver fraco, dividido
e me sentindo um caco,
eu quero ser aplaudido
quando for pego me iludindo,
e que acreditem
quando nego,
mesmo mentindo,
eu quero bater palma
pra maluco dançar,
eu quero poder perder a calma
quando alguém pisar no meu calo,
eu quero pegar um bloco de embalo,
sumir por aí
e nunca mais voltar!