terça-feira, julho 05, 2005

Ave, Maria!

Triste-vida,
bem-te-vi,
o pituã pia,

só no fim do dia o jaó,
e insiste na nostalgia,
o que se há de fazer,
é assim o zambelê,

e o sabiá-laranjeira,
e a juriti,

na mata escura pia caburé,
mocho,
jacurutu,

mas,
inaugura a manhã
o canto encantador do uiramiri,
canta,
uirapuru,
que quem ouvir o teu cantar,
a sorte há de abraçar,

e trata da lida com melodia
a cotovia,
sabiá,
canário,
pintarroxo,

e o rol tem sabiá-do-campo, o plagiário,
corrupião, cujo canto
teria inspirado nosso Hino,
como o destino é curioso!,

bom,
tem mais o rol,
tem-tem,
gaturamo,
sabiá-preto, um dos mais sonoros,
peito-roxo,
curió cantador,
o canoro rouxinol
e a corruíra,

o colibri dá muxoxos,
e a torto e a direito,
é o beija-flor,
e bem podia ser beija-Chatô!,

as andorinhas são a voz do verão,

e pesca o atobá, e garça, gaivota, batuíra,
pelicano, o pescador martim,
o albatroz, no meio do oceano,
o fura ou vira-buxo,
que se deu ao luxo
de dar boas-vindas ao lusitano,

o tico-tico não nota
e adota o filho do chupim,
o astuto engana-tico e nem disfarça,

a pega cata o que tem brilho,
de um ladrão dizem que se trata,

no fruto o nhapim mete o bico,
e sanhá,
sanhaço,
cambacica,

e bica o grão e a semente a coleirinha,
e bico-de-lacre,
rexenxão,
rolinha,
e pintassilgo,
arara,
pardal,
que se aninha no quintal
e não se separa mais da gente,

e a pardoca raramente come inseto,
que do sabiapoca é o prato predileto,
e na escolha do caminheiro o primeiro,
e também do vira-folhas,
e do guedé,
tapicuru,
surucuá,
e do manimbé,
mucuru,
batará,

o maçarico-de-coleira, curioso,
como é nervoso,
vive às carreiras e pára de repente,
busca alimento,

é batimento de ferro em bigorna
o som de ferreiro e gralha,
tão estridente,
que se torna aflitivo,
bem,
têm lá as aves seus motivos,

já o canário-da-terra,
e da-terra pra diferençar
do que veio de além-mar,
canta suave porque sabe cantar,

e tem pixarro,
anu,
japu,
trinca-ferro com bico forte,

na moradia o joão-de-barro
trabalha e vigia,
pois não se fia só na sorte,
que o tuim é intrujão,
o tucano rapina
e os rapaces não são fáceis,
gavião,
harpia,
japacanim,
murucutu,
e, por fim, a faxina é do urubu,

o urutau e o viruçu são mestres em disfarces,

o faisão parece o tal,
também,
é uma beleza,
e, na mesa,
que maravilha,

e da família é o galo,
tem crista,
é bom de rinha
e o artista da cama nos apeia,

sua dama é a galinha,
que na manja faz sucesso,
dá caldo,
canja
e molho pardo,

e resta o peru,
que guardo pra festa,
pra ceia,
e, antes da hora,
encho de pinga,
e há, ainda, os afins,
cujubim,
mutum-açu,
jacu,
jacutinga
e arancuã,

mais pato e marreco,
pares perfeitos do purê de maçã,

e faz feito eco o ajuru,
ajurucatinga,
jurueba,
ajuruetê,
papagaia tudo que falo,
de quebra,
papagaia você,
só se cala o anacã,
e sequer sei o porquê,

tem o belo azulão ou azulinho,
cor de céu e mar,

todo negro o xexéu,
joão-conguinho,

e o cardeal-amarelo,
cardeal-de-montevidéu,

o pica-pau não é um só não,
vai do grande ao anão,
e tem chanchão,
birro-branco,
benedito,

e não fica atrás o periquito,
é tuixiriri que não acaba mais,
mas o rei é a jandaia,

da-praia tem saracura,
bacurau,
vedeta,

e mais sabiá,
que livre é mau cantor,
cativo sabe cantar,
mas não é canto,
é pranto,
melancolia,
que só dor a clausura dá,

e entre as aves tinha que ter maria,
e a crença, a cor, não faz diferença,
é maria-preta,
branca,
mulata,
pretinha,
maria-judia,

e tem mais marianita,
marianinha,
mariquita,
maria-já-é-dia,
é-dia, maria,

e vem maria-faceira,
rendeira,
cavaleira,

e fica maria-besta,
maria-caraíba,
maria-com-a-vovó,

e não é só,
não pára por aí,
tem maria-de-barro,
maria-lecre,
mariangu,

mas vai indo,
vai indo
e fica maria-velha,

mas,
Maria tinha que ter.
Ave, Maria!