quarta-feira, julho 13, 2005

Não passa o meu dia

Não passa o meu dia
de um agasalho precário
nos ombros de um bêbado
que bebeu seus escombros
no desvario da madrugada,
não passa o meu dia
de um sóbrio e tremido vazio,
miséria, clandestinidade,
um nada impróprio
espremido entre dois porres,
o que escorre de veias e artérias
e o que sempre se toma
quando a escuridão assoma
e apeia a claridade,
e por este a alma já anseia,
não passa o meu dia
de um traje transparente
jogado num canto do armário,
tão transparente,
que a gente sente vergonha
de se imaginar descoberta por ele,
não passa o meu dia
de uma ferida aberta
com o fio da sensatez
que mal medeia a embriaguez,
não passa o meu dia
dessa torrente de mágoa viva
e de saliva que encharca a fronha!