quarta-feira, julho 13, 2005

Pássaro liberto

Pássaro,
asas sinuosas,
insinuantes
ao sabor do vento,
rutilante corpo irreal,
feito a bico de pena
em folhas de papel ideal,
vôos incongruentes,
frente ao inferno,
rente ao céu,
ave intensa em rotas difusas,
caminhos,
percursos controversos,
vai da água ao vinho,
do verso à prosa,
pousa em rosa,
parte espinho,
afaga a calma clara
do azul infinito,
quase toca a rara,
a branca paz,
e, de repente,
se torna aflito,
se agarra à bitola
do trilho vermelho em brasa,
se dissolve,
perde cor e brilho,
não sente a flor e passa,
se esgarça a trama, a urdidura,
quanto mais se abrem os vãos,
mais se fecha a clausura,
mais se engaiola,
mas,
na grade áspera se esfola,
se amola com afinco
e exorta outra vez a emoção,
e não há trinco na porta,
se reacende a chama e emerge,
voa veloz ao encontro
do encantamento do arco-íris,
novamente solto
é albatroz,
joão-pires,
bico-aberto,
pensamento,
pássaro liberto.