terça-feira, julho 12, 2005

Cantadores e violas marginais

Por cantos marginais,
de viola em punho
e de peito aberto,
lá vai o cantador,
cada palmo de chão, de emoção, de transpiração,
entrelaçado nas cordas,
laço apertado
que vem do coração;
com violas marginais,
dá testemunho
de um viver incerto e aberto,
cada palmo de mão, de devoção, de inspiração,
dedilhado pelas bordas
de dedos afinados,
faz cantar o coração;
e não importa
se não há platéia,
e não importa
se não há ovação,
cada nova nota
tem sabor de estréia,
que viola e cantador
cantam
pelo puro prazer das canções,
por isso,
cantam de sul a norte,
noite e dia,
aqui e agora,
e por todas as razões;
cantador e viola marginais
cantam toda sorte de mundo,
o mundo que nos amola
bem lá no fundo,
o mundo que aflora
e cantarola uma canção
que se chama Alvorada,
o mundo
que se esconde
sob as vestes de uma dama
chamada Escuridão;
cantam o mundo que ri
e o que chora,
o mundo cheio de si
que ignora aquele outro mundo
que roga, clama, implora;
cantam o mundo
que gera e acalenta,
trata, apascenta e acaricia,
e cantam o mundo
que atormenta, desespera e se droga
e suplicia, e mata;
cantam o manso e o ranço,
cantam o puro e dócil
e o duro, fóssil, amargurado;
cantam passado e futuro,
dor e amor,
rancor e paixão,
cantam o todo e a fração,
cantam tristeza e alegria,
e vão cantando a rodo
e por todos os cantos,
exorte o canto
a vida incerta que nos cerca
ou a certeza que nos cerca a morte!